Por Oziel Gustavo Marian
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30 de março de 2024
Uma das práticas israelitas, nos tempos bíblicos, era o sacrifício de animais. Eles eram mortos, queimados e o sangue aspergido no altar do templo de Jerusalém. E quem vinha de longe, para não trazer os animais, trazia dinheiro e os compravam dos comerciantes locais. E quem tinha moeda estrangeira, podia trocá-las pela moeda local, com os cambistas. Podemos, então, concluir que o templo e arredores ficava bem caótico, uma grande feira de negócios. Foi esta cena que Jesus encontrou em uma de suas viagens a Jerusalém e segundo o relato de João 2.13-17, ele fez um chicote, virou as mesas e expulsou os que ali comercializavam animais e outras coisas. O templo deveria ser lugar de oração, adoração, testemunho, comunhão e outras coisas que geram crescimento e amadurecimento pessoal e espiritual. Mas aquilo tudo estava mais relacionado ao comercio, do que com adoração e celebração. Esta situação nos convida a refletirmos sobre como andam as nossas celebrações e nossa adoração: Estamos fazendo uso apropriado dos templos, celebrações e cultos para honrar, glorificar e adorar a Deus? Ou também temos alterado o propósito, construindo templos para a glória humana, para o simples entretenimento e como fonte de comercio e lucro? Temos nos reunido para ter comunhão com irmãos e irmãs na fé, para ajudar-nos mutuamente, para orar uns pelos outros, para ler e estudar as escrituras, para acolher pessoas e fazer a vontade do Senhor? Ou temos nos reunido para pôr as fofocas em dia, provocar inveja e ciúmes, promover competição de egos e criar disputa de poder e posição? O que temos feito e falado promove o nome de Cristo e edifica o corpo de Cristo, a igreja? Ou, o que temos feito e falado envergonha o evangelho, gera desordem, intrigas e outras coisas que dividem o corpo de Cristo, a igreja? O que Jesus fez, foi algo semelhante ao que mais tarde Lutero e outros fizeram e que precisamos continuamente fazer: restaurar o propósito fundamental da nossa fé e do nosso testemunho. A história tem mostrado que o ser humano tem uma tendência incrível de acrescentar e complicar as coisas: - Deus criou dez leis, que podem ser resumidas em duas; o ser humano as transformou em centenas, milhares; - Deus quer um relacionamento de amizade com seu povo; o ser humano transformou isto em rituais e protocolos sofisticados; - Deus revelou sua vontade em Jesus e em sua mensagem, o evangelho; o ser humano transformou isto em dogmas infindáveis. - Jesus, ao iniciar a igreja, queria proporcionar um ambiente de comunhão, amizade e adoração; o ser humano transformou numa instituição, cuja burocracia é esgotante. Ou seja, nós pegamos algo simples, vivo e dinâmico, e vamos complicando, engessando e enchendo de coisas. O povo de Deus na atualidade não comercializa e sacrifica pombas, cabritos, ovelhas, bois e não tem o cheiro e o caos que Jesus encontrou naquela celebração, mas tem adesivos, camisetas, venda de milagres, rituais e uma infinidade de objetos “gospel/religioso” que continua transformado as celebrações em feira de negócios. Não quero generalizar, pois sempre há exceções, mas suspeito que a igreja tem a mesma falta de propósito, de testemunho e de entendimento do que significa celebrar e adorar a Deus, que os israelitas tinham. Assim como no cotidiano, nós vamos acumulando coisas, comprando itens que não necessitamos, enchendo nossa casa e sobrecarregando as finanças. A religiosidade nos faz acumular uma quantidade enorme de elementos sejam materiais ou mentais aos quais atribuímos sacralidade, tornando-se assim, em “sacrifícios” aos quais nos apegamos. Por isso, ouço Jesus dizendo para nós: tirem estas coisas do meio de vocês, parem de fazer do meu corpo, a igreja, um comércio e um espetáculo para entreter as multidões. Como disse Deus por meio do profeta Amós 5.21-24 "Eu odeio e desprezo as suas festas religiosas; não suporto as suas assembleias solenes... Afastem de mim o som das suas canções e a música das suas liras. Em vez disso, corra a retidão como um rio, a justiça como um ribeiro perene! " Nós, os seguidores de Jesus, em comunhão, somos o corpo de Cristo, o templo, morada do Espírito Santo. Somos a face e a presença de Cristo no mundo e como tal devemos viver. Portanto, tudo aquilo que não encontramos em Cristo, que não aponta para cristo, que atrapalha a verdadeira adoração e que não edifica a vida das pessoas, deve ser tirado, jogado fora! Que este período da Quaresma e da Páscoa, pela qual estamos passando, nos ajude a fazer uma faxina em nossa vida pessoal e espiritual, simplificando algumas coisas e descartando outras, permanecendo com o que é essencial; oração, adoração, louvor, amor ao próximo e temor ao Senhor. Oziel Gustavo Marian Pastor na Comunidade Luterana em Juiz de Fora.